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20081004

Era um entardecer vulgar, esse em que o vento se questionou. E continuaria a ser um vulgar entardecer se o vento não duvidasse naquele instante em que, parado, mirou as águas do lago. Seria se não perguntasse por que não havia reflexo.
Que bem estaria se não duvidasse,
Se não perguntasse ao lago porque não me reflectiu.
Que bem estaria se o lago não respondesse:
Existes tu? Ó vento parado. Alguém te viu?
Que bem estaria o vento se não duvidasse.
Que existia bem sabia, por quanto era jovem, tanto quanto pode ser o vento, mas seria altivez este desejo de se querer ver? Como saber a verdadeira dimensão da sua arrogância?
Sossega, ó vento parado, que não há como saber de qualquer coisa que seja precedida de tal termo, verdadeiro.
E se do reflexo queres saber, será falso, ilusório, mesmo nada espelhando.
A dúvida surge em não saber crer numa mentira, por muito pequena que seja. É parar de fazer o se faz.
É sem dúvidas que de uma pequena mentira se faz uma verdade grande. E não deixando de o saber, é tomá-la de companhia por dentro até inventar uma mentira menor, amesquinhando a velha mentira por uma verdade maior, bem maior. E assim se faz até morrer. Ou então rebentar de verdade por crer numa mentira tão pequena, tão insignificante que se não creia que exista.
E depois recomeçar.
Ninguém viu que o céu plano da tarde subtilmente se ondulou de reflexos pungentes na superfície do lago sob aquele vulgar entardecer.

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