hoje verbo hoje verso hoje verto hoje perto hoje certo hoje corto hoje corro hoje morro hoje

20090111

daDAltonismo

Dadá!...
Cor dá... Cor dadá!
A cor dá.
Acordadár... Acordar.
O sonho dadá!
Acordar de olhos fechados, a dar no sonho!
A cor dada nos olhos fechados. Dadá!
Estou acordado de sonhos fechados. Fechachádos.
Os olhos fechados.
Estou acordado! Os olhos... A abrir os olhos... Os olhos na janela!

A janela. A dor nos olhos, fechados. A dor no pescoço. Abrir os olhos à janela em frente. E entre os olhos e a janela, a luz cega do dia. A dor atrás dos olhos, fechados. Esticar a dor do pescoço na cadeira, nas costas, a estalar as costas da cadeira. A dor nas costas. A luz do dia que se encerra nos olhos, esticados, num longo silvo fechado. Esticar e... esvaziar!...
Acordar de mãos frias que esfregam fundo, os olhos fechados ao sonho, na janela em frente.

Era o sonho!... Já não lembro o que dá cor à janela de luz branca.

Lá fora.
Janela que luz a cidade a nascente, aberta.
Luz a brisa quente dos sons da cidade branca,
caldo de rumores que se agitam em conversa de esquina,
o táxi que espera,
o guincho da grua ao longe
e que se chega ao barril que rola seco na calçada.

Quedo, frente à janela, quase nem me atrevo respirar. A guardar o torpor que se abre de fora, lá de fora, deixar entrar a cor da janela.
A luz aberta na memória dos timbres de todas as cidades, emoldurada aqui em frente.

Podia ser o sonho!... Talvez lembre a que soava a luz branca da janela.

Ali mesmo.
A janela que se rasga em tons de manhã, acordada.
O branco soprado em doces afagos,
a roupa que cheira a sol,
o lixo lavado de lixívia,
a pimenta guardada no fundo das adegas.
Uma gota de maresia no grito da gaivota
e as caixas de fruta.
Laivos de aromas que anunciam a velha loja dos sonhos de açúcar.

Permanecer assim. Aberto à janela em frente sem que mova um dedo, para que nada trema, nada quebre o fluido cristalino que revela a cor da janela.
A luz no pingo de tinta a cada canto da memória.

Podia ser qualquer coisa!... A luz que fere a carne, mais que fere os olhos, de frente.

A janela plana sem que importe a profundidade em que se recorta na parede. Pintada de memória, sem quadros, cortinas ou estantes de livros. Só parede e janela em frente, plana e plena de luz sem cor.
Branca.

Espero o momento de lembrar o que importa.
Ficar.
Importa ficar.
Lembrar que é tudo que importa.
O mais pequeno nada.
O ficar.
Aqui, frente à tela que adormece...
Lenta e sem cor.
A luz da janela que se abre ao sonho.

Lembrar o sonho?
O sonho era...
O sonho… não lembro o sonho...
A cor?...

A cor que luz na tela como janela por pintar.

1 comentário:

Anónimo disse...

AMEI AMEI AMEI o teu blog!!!